A mulher no mercado de trabalho e nas lideranças

A mulher no mercado de trabalho e nas lideranças

No passado, ver uma mulher no mercado de trabalho era difícil, já que, algumas tradições de séculos anteriores colocavam o homem como o único provedor das necessidades do lar. Para a mulher restava somente as tarefas de organização da casa e criação dos filhos, ela não tinha o direito de trabalhar e nem participava de decisões importantes na sociedade, como votar, que só foi permitido no Brasil em 1933.

As primeiras normas brasileiras de proteção ao trabalho da mulher surgiram na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943, e estabeleciam restrições às atividades extraordinárias, noturnas, insalubres e perigosas. Foi somente no início do Século XX que as mulheres de classe média começaram a atuar nas empresas, preenchendo funções de auxiliar, como secretárias. Pouco a pouco, elas foram ganhando espaço no mercado de trabalho, bem como sua inserção na política, na década de 1970. Além disso, as mudanças na economia, a globalização e o capitalismo, trouxeram como consequência a busca pelo aumento da renda familiar, favorecendo o crescimento das mulheres dentro das empresas.

Diante desse cenário, após anos de censura em diversas posições de poder e autoridade, já encontramos, no país, muitas mulheres na liderança das empresas. De acordo com uma pesquisa realizada na última edição da International Business Report (IBR) — Women in Business 2019, no Brasil, o percentual de empresas com pelo menos uma mulher em cargos de liderança foi de 93% em 2019, sendo uma grande evolução em relação aos 61% em 2018.

Características que favorecem mulheres na liderança

Um grande fator contribuinte para esse cenário são os diversos atributos humanos e técnicas que favorecem as mulheres em relação a enxergar um panorama geral da organização. Essas características também contribuem na administração e na tomada de decisões corporativas. Vamos conhecer algumas delas?

Solucionadoras holísticas de problemas

De acordo com um novo estudo da Universidade Técnica de Aachen e da Universidade de Koblenz e Landau, o cérebro das mulheres não é mais multitarefa do que o dos homens, um mito que vem sendo reproduzido em nossa sociedade há um bom tempo. Culturalmente, ao longo dos tempos, as mulheres tiveram que conciliar o cuidado com a casa, marido e filhos, com a sua vida profissional. Tal rotina fez com elas tivessem rápidas mudanças de atenção e foco de uma tarefa para outra, sem que nenhuma delas perdesse a qualidade. Segundo estudos, as mulheres também assimilam mais detalhes, com mais rapidez, e organizam essas informações em padrões mais complexos. Em cargos de liderança, ao analisar mais variáveis antes de tomar decisões, elas oferecem resultados mais efetivos e, principalmente, os conquistam juntamente com a colaboração da equipe.

Determinadas e perseguem mais oportunidades

Segundo estudos, mulheres costumam dar mais importância para oportunidades de crescimento. Até porque elas precisam se qualificar mais que os homens para conseguir ocupar os mesmos cargos. Essa realidade faz com que elas sejam mais determinadas e persistentes com relação aos obstáculos corporativos e continuem focadas nos desafios da empresa até que o objetivo seja concluído.

Inspiram confiança e promovem comunidades

Segundo a cartilha “Os Princípios de Empoderamento das mulheres” — desenvolvida pela ONU Mulheres Brasil, líderes femininos baseiam suas gestões oferecendo um alto nível para a igualdade de gênero, tratando homens e mulheres de forma justa e apoiando a não discriminação e direitos humanos. Além disso, mulheres na liderança promovem ações corporativas de empoderamento, resultando em um profundo senso de orgulho, lealdade e ética do trabalho. Ainda, essa parceria cria um ambiente de negócios ativo, formando uma força tarefa extremamente eficiente, em prol de um objetivo maior.

Colocam a equipe sempre em primeiro lugar

Por serem mais sensíveis e buscarem um ambiente organizacional harmônico, além de terem um instinto maternal, as mulheres na liderança estão sempre prontas a ouvir e a considerar as percepções e ideias de seus colaboradores. Ainda, elas tendem a permitir a participação ativa da equipe nas decisões da organização. Isso ocorre porque elas já percorreram um longo caminho pela igualdade de gênero e, por isso, almejam um mercado de trabalho mais equilibrado e harmônico, onde haja mais espaço para líderes e liderados construírem uma empresa de sucesso.

Desafios a serem enfrentados

A questão da igualdade de gênero, a cada ano que passa, vem ganhando mais espaço em nossa sociedade. Mas o cenário ainda não é promissor. Segundo dados da pesquisa “Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero”, realizada em 2019 pela Ipsos, três em cada 10 pessoas no Brasil (27%) admitem que se sentem desconfortáveis em ter uma mulher como chefe. A resistência é maior entre os homens, alcançando 31% deles — enquanto 24% das mulheres no Brasil pensam da mesma forma sobre serem lideradas por alguém do mesmo gênero.

Esse preconceito vem de uma cultura machista que ocorre na sociedade em geral. Quando uma gestora é autoritária e assertiva, os colaboradores a enxergam como mandona e rigorosa. Agora, quando um líder homem age da mesma forma, ele não é criticado e sim, admirado e visto com um líder normal. Outro fator contribuinte para tal preconceito está dentro da maioria das empresas que não busca implantar a diversidade no ambiente organizacional. Segundo uma pesquisa da Bain & Company em parceria com LinkedIn, em comparação a um homem, uma mulher é: 1,7 vezes mais propensa a não ser considerada para uma oportunidade porque é vista como não flexível ou com baixo comprometimento; 1,6 vezes mais propensa a receber remuneração menor do que os homens em posições semelhantes; 1,5 vezes mais propensa a não ser considerada para uma posição/oportunidade por conta de diferenças no estilo de liderança ou de relacionamento interpessoal.

Além de enfrentar todo esse preconceito, a mulher ainda tem que enfrentar discriminação por conta da maternidade e fugir de abusos no ambiente corporativo. Porém, mesmo diante desse cenário, não tão promissor, aos poucos, elas têm conseguido avanços no mercado e ocupado cargos mais altos nas organizações. As mulheres não querem provar que são melhores que os homens. Elas apenas querem chances iguais e mostrar que têm características que as tornam únicas. Além disso, o apoio dos homens para o crescimento das mulheres dentro das empresas é fundamental. Afinal, atualmente, são eles que estão em maioria nas posições mais importantes nas organizações.

Cabe a esses gestores promoverem uma cultura organizacional que trabalhe a igualdade de gênero, garantindo que todos os colaboradores, independente do gênero, tenham as mesmas oportunidades. Para tanto, é preciso também estabelecer uma política de tolerância zero a todas as formas de violência no trabalho, incluindo o abuso verbal ou físico, e prevenir o assédio sexual. Um governo que seja participativo nessa questão, também é essencial para a conscientização de toda a sociedade sobre o quanto é importante contratar, valorizar e empoderar as mulheres.

Um estudo do Banco Mundial, Desenvolvimento e Gênero — Igualdade de Gênero em Direitos, Recursos e Voz, revela que os países que promovem os direitos das mulheres e aumentam o acesso delas aos recursos e ao ensino têm taxas de pobreza mais baixas, crescimento econômico mais rápido e menos corrupção. As mulheres na liderança se mostram mais pacientes e têm uma visão sistêmica e analítica da empresa como um todo. Além disso, promovem um ambiente organizacional com maior diversidade, sendo humano e igualitário para todos. Com essas e tantas outras qualidades que citamos aqui, a empresa só tem a ganhar em ter as mulheres como suas líderes.

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